quarta-feira, 3 de setembro de 2014

RESUMO: Processo de (Re) Elaboração do Projeto Político pedagógico. Como acontece? (Celso Vasconcelos)

Esse texto, trás algumas diretrizes para orientar  a (re)elaboração do Projeto Político Pedagógico.

Antes, contudo, de abordarmos o “como fazer”, propomos algumas reflexões a fim de fundamentar e trazer mais elementos para a significação deste importante momento da construção do PPP da escola. 

I—Conceituando

 Com o crescimento da autonomia escolar, vai ganhando importância cada vez maior a avaliação da escola no seu conjunto, feita por ela mesma; trata-se da auto avaliação da instituição.

No passado, a avaliação da escola era feita por um sistema centralizador e baseada em parâmetros formais e burocráticos (visita do inspetor, dados estatísticos em cima de recortes da realidade de relevância duvidosa, relatórios intermináveis, etc.). A instituição que se avalia, percebe suas necessidades, e toma iniciativas para superá-las; quando não se coloca a tarefa de analisar suas práticas, isto será feito de fora, aumentando o seu grau de dependência.

 No Planejamento Participativo, o Projeto Político-Pedagógico tem como uma das suas partes constituintes o Diagnóstico, que corresponde justamente a esta avaliação institucional.

 O Diagnóstico propicia a passagem do ideal para o plano de ação, que será o guia da prática. O plano de ação é “filho” da tensão entre a Finalidade e a Realidade. No Marco Referencial, ao estabelecermos nossos ideais, firmamos um dos pontos de apoio. Agora, ao elaborarmos o Diagnóstico, firmaremos o outro. Desta forma será possível termos a tensão criativa para a Programação.

O Diagnóstico cumpre, portanto, o fundamental papel de elemento mediador entre o Marco Referencial e a Programação.

elaboração de projeto

Como fazer o Diagnóstico?

 Existem, como se pode imaginar, muitas formas de se realizar o Diagnóstico.
Apresentaremos a seguir alguns tópicos  que nos parece ser ao mesmo tempo suficientemente abrangente e relativamente simples.
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1.Preparação/Sensibilização

A construção coletiva do Marco Referencial significou uma importante conquista da Escola e, ao mesmo tempo, da Rede de Ensino de Guarulhos, considerando este movimento coletivo de (re)elaboração que estamos fazendo: cada escola do seu jeito, no seu ritmo, mas ao mesmo tempo todas as escolas.

Entramos agora na 2ª parte da (re) elaboração participativa do Projeto Político-Pedagógico da Escola, o Diagnóstico. A tarefa que está agora colocada é a de uma análise cuidadosa da realidade de cada escola, tendo como referência os sonhos, expressos no Marco Referencial (mais especificamente no Marco Operativo).

 O grande cuidado inicial da equipe de coordenação do Projeto na Escola é resgatar o
significado do momento, para que não se faça uma coisa mecanicamente, “Porque a
coordenadora mandou”, “Porque a direção exigiu”. Da mesma forma, é importante criar um clima favorável, a fim de que cada participante possa dizer aquilo que está vendo, aquilo que ele está sentindo, aquilo que ele está percebendo na escola.

O Projeto Político-Pedagógico como um todo é, para nós, um elemento de vida, de avanço na qualificação do trabalho. Não é panaceia. É limitado, é contraditório. Mas, é nosso. Tem a nossa cara. É para sermos mais felizes, para nos realizarmos.

Construção do Instrumento de Pesquisa 

É preciso construir o instrumento de pesquisa, elaborar as perguntas a serem feitas.
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Sugestão de Questões para a Elaboração do Diagnóstico:

a)O que tem contribuído para a concretização da [dimensão em questão] expressa em
nosso Marco Referencial?

 b)O que tem dificultado a concretização da [dimensão em questão] expressa em nosso
Marco Referencial?


Obs.: vejam bem, não se trata de dizer o que se acha que contribuiria/dificultaria se
existisse.

Não! Neste momento metodológico deve-se apontar aquilo que efetivamente já existe na instituição. 

Trata-se de fatos e situações que já têm acontecido (aconteceram ou estão acontecendo), e não que se gostaria que acontecessem. É uma descrição do real, o que tem contribuído, o que tem dificultado, historicamente, objetivamente; levantar pontos bem concretos (o que, aliás, é algo que muitos professores queriam fazer já no Marco Referencial, quando metodologicamente ainda não era o momento).

O resgate de aspectos positivos da prática escolar é importante tanto do ponto de visto Ontológico (relativos à própria constituição do real), já que a realidade é contraditória, quanto Psicológico, qual seja, para ajudar a manter o ânimo, a esperança, a não desistir, a valorizar os passos já dados na direção desejada, como ainda Metodológico: são pontos de apoio para o avanço, tanto na continuidade da caminhada (valorizar para preservar), quanto no enfrentamento dos limites e contradições.

As perguntas que orientam a reflexão no Diagnóstico se referem à realidade, mas têm
como parâmetro, como elemento de comparação, o desejado. Isto faz com que a resposta não seja um simples levantamento de dados, mas uma leitura dos dados da realidade já confrontados com a perspectiva que assumimos como sendo aquela que desejamos caminhar. Só para ficar mais claro, numa outra linha de trabalho, poder-se-ia simplesmente perguntar “Como está a [dimensão em questão] em nossa escola?”, levando a um grau de dispersão muito grande das respostas, uma vez que a pergunta não se pauta em um referencial comum, e este nem sequer teria sido elaborado, no caso de se ter começado a fazer o projeto pelo Diagnóstico. 


2.Elaboração Individual


É o momento do posicionamento pessoal dos participantes. É muito importante, pois é a base de todo o restante do trabalho; demanda, portanto, a máxima dedicação e empenho. Trata -se da contribuição de cada um e de todos para a melhoria da instituição. 

Começar pelo individual e por escrito favorece a participação efetiva de cada um e de todos; racionaliza o tempo de discussão, já que normalmente no grupo discute-se muito —alguns membros— e depois o resultado que aparece escrito é sempre muito inferior ao conteúdo do debate. 
Para se evitar desperdício da dinâmica e desgastes posteriores, é importante que sejam dadas orientações bem claras sobre este momento de resposta individual: 

Cada participante recebe o conjunto de papéis já recortados e com as questões já impressas. Ninguém é obrigado a responder todas as questões. Porém, quanto mais questões responder, melhor será, pois haverá mais material para enriquecer a produção da síntese; 

Os participantes devem ter em mãos uma cópia do Marco Referencial para que possam consultar o ideal da escola em relação a cada dimensão do Marco Operativo (elemento de referência para poder responder as questões); 

Cada participante escreve em um pedaço de papel a resposta à pergunta, procurando expressar suas ideias com clareza. Lembrar que não vai estar depois com a equipe de sistematização para explicar o que quis dizer; daí a demanda de clareza; 
A resposta será individual para favorecer a contribuição e envolvimento de cada um. 
Individual significa... individual! Depois haverá muito espaço para o trabalho coletivo. Aqui, é importante cada um se posicionar, dar sua contribuição singular; 


Obs.: No caso de o número de participantes ser muito grande, sobretudo quando envolvem alunos e pais, o que se tem feito é, p. ex., cada quatro ou cinco alunos gerarem um texto a fim de facilitar o trabalho posterior da equipe de sistematização; 

  • É importante que ao responder, cada participante esteja atento ao critério metodológico 

deste segundo momento: não é hora de propostas concretas (isto será feito na Programação); também não é hora de sonhos, de expressar desejos (isso foi feito no Marco Referencial). No Diagnóstico devemos descrever e analisar a realidade, fazer comparações, confrontar com o desejado. Como apontamos acima, se o sujeito não tem clareza do momento metodológico, poderá se sentir desrespeitado quando sua contribuição for cortada da sistematização por problema técnico; 

  • Entendemos que na hora da resposta não cabe consulta a bibliografias; o que importa é aquilo que o sujeito tem incorporado e não ficar citando autores para que o projeto fique “bonito”; como dizia Paulo Freire, a boniteza tem de estar no processo e não tanto no produto (se alguém sabe de cor, de coração, naturalmente pode citar); 

  • Estar atento aos eventuais chavões/modismos (“construtivismo”, “mediação”) ou com armadilha do trenzinho (sequência) de adjetivos que correm o risco de, ao quererem dizer tudo, nada comunicarem em termos mais substanciais. Orientar no sentido de dizer o que entende por aquilo (“com suas palavras”), se usar um termo mais técnico ou específico; 

  • Ao contrário do Marco Referencial, em texto de Diagnóstico cabem, sim, elementos quantificadores (“muitos”, “alguns”, “sempre”, “às vezes”, etc.); 

  • O grupo deve ser esclarecido que a decisão posterior sobre o que ficará ou não na redação do Diagnóstico não será por ‘quantidade’ de referências a um aspecto, mas sim como uma consequência da reflexão em plenário; portanto, não adianta querer influenciar o colega para que dê o mesmo tipo de resposta; 

  • Responder em presença (não levar para casa para responder); 

  • Não se identificar; 

  • Lembrar que, de um modo geral, não há tempo para passar a limpo. Superar o medo do erro. 

Aplicar o Instrumento de Pesquisa: usar a mesma sistemática vista no Marco no Marco 
Referencial: um pedaço de papel para cada resposta, etc. 

Insistimos: destacar para o grupo que, neste momento metodológico, o que se espera da contribuição de cada um é sua leitura da realidade; não é para expressar o ideal desejado (isto foi feito no Marco Operativo), nem o que fazer (isto será feito na Programação). 

Cada participante, certamente, irá responder de acordo com a sua possibilidade. A percepção é formada historicamente. Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo o ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura (Boff, 1997: 9). Então, a percepção que cada um tem do mesmo fato, da mesma realidade, pode variar muito. A riqueza desse processo é o que virá em seguida: o diálogo, o confronto de pontos de vista, buscando a intersubjetividade. 

Uma diferença sutil deve ser contemplada aqui: no Diagnóstico, buscamos conhecer a 
realidade de forma precisa. Surge, às vezes, a dúvida: o Diagnóstico seria então o real “sem 
sonhos” (já que o que se visa é o que está dado)? Ora, se o que está em questão é a realidade 
vista com rigor, devemos ser capazes de diferenciar o que é sonho do que não é, ou seja, do 
ponto de vista metodológico, no Diagnóstico não é hora de sonhar (isto foi feito no momento do 
Marco Operativo); no entanto, a realidade que estamos investigando pode também conter sonhos. 

Neste caso, devem ser identificados como tais. É certo que o sujeito que olha a realidade é o 
mesmo que sonha, todavia neste momento de elaboração há todo um esforço no sentido de 
analisar a realidade com a maior objetividade possível. Se o sujeito deseja que a escola tenha 
reunião pedagógica semanal, mas ela não tem, quando vai responder “o que tem contribuído para 
a concretização da [dimensão em questão] que desejamos” não é pertinente colocar a reunião. 

Por outro lado, se há no grupo uma aspiração para isto, pode registrar esta aspiração como um 
elemento que contribui. Em outras palavras: podemos identificar sonhos presentes, mas não 
confundi-los com realizações. O sonho desperto —explicitado, de diferentes formas, no Marco 
Referencial e na Programação— tem uma função muito importante no processo de mudança (cf. 
Bloch, 1977); porém, não deve ser ontologicamente confundido com a prática (ainda-não versus 
já), pois isto faria com que perdesse sua força de tensionamento da realidade na direção de sua transformação. (Vasconcellos, 2013b).



3.Sistematização 

Esta etapa da elaboração do Diagnóstico corresponde à organização das ideias expressas 
individualmente. Trata-se de uma primeira redação, que nada mais é do que um agrupamento 
inteligente das ideias (não uma mera colagem). É, portanto, uma tarefa técnica de construção de 
um texto, não de julgamento. 

Não importa, neste momento, a opinião de quem faz a sistematização; a discussão 
do conteúdo se dará nos grupos e no plenário, e não agora! 
 O critério fundamental para a execução desta tarefa é a fidelidade às ideias dos participantes, ou seja, garantir que as ideias e opiniões de cada um sejam levadas em consideração. Se depois, quando receberem o texto da sistematização, as pessoas não reconhecerem sua contribuição, por certo, todo o processo estará comprometido por falta de credibilidade. 

Ideias que eventualmente ‘não se encaixaram’ na redação final, por inadequação metodológica entre pergunta e resposta, no quadro geral das partes do projeto (ex.: ao invés de apontar um dado de realidade, o participante aponta uma ação concreta), ou por qualquer outro motivo, devem ser separadas para facilitar a localização no caso de questionamento futuro sobre sua não inclusão no texto. Sempre que possível, é conveniente tentar extrair o melhor, o máximo possível da resposta, mesmo que existam problemas metodológicos. É preciso analisar e interpretar todas as opiniões, destacar as ideias subjacentes que podem ser aproveitadas, e generalizá-las. No caso da resposta de uma dimensão se referir a outra, ela poderá ser encaminhada, no todo ou em parte, a outra equipe de sistematização.



Identificação das Necessidades 

O nosso risco, porém, é este: somos devorados pelo urgente e não temos tempo para posicionarmo-nos diante do importante. Fernando ÁvilaA partir da sistematização das contribuições individuais, identificar, em cada dimensão,
quais as necessidades subjacentes, aquelas que estão por detrás daquilo que vai bem e do que não vai bem. Este talvez seja um dos momentos mais difíceis e, ao mesmo tempo, importantes do Projeto.

Exige atenção, sensibilidade, perspicácia. É um trabalho sutil; trata-se de perscrutar a realidade, procurar ver o que está nas entrelinhas: quais são as faltas, as carências da instituição.
Existem necessidades que se manifestam em vários aspectos da realidade escolar e que,portanto, interferem em várias dimensões do Diagnóstico. Para não ficar repetindo-as, pode-se deixá-la registrada na dimensão em que se entende que seja mais típica dela, ou onde sua interferência é maior.

Às vezes, uma necessidade engloba uma série de manifestações problemáticas da realidade. Nesta medida, a lista das necessidades não precisa ser excessivamente grande.  A redação das Necessidades vem depois da análise de cada dimensão. Lembramos que as necessidades serão as guias para a Programação. Uma pergunta pode ser feita para ajudar a chegar às necessidades radicais: esta é uma
necessidade radical ou uma das formas possíveis de satisfazê-la, supri-la?

Quanto mais radical a captação da Necessidade, maior o número de possibilidades de
ação para satisfazê-la.

Comumente, é formulada por itens, por tópicos, por uma frase, não sendo preciso construir um texto mais elaborado (ver Anexo 1 – Exemplos de Explicitação de Necessidades).



4.Análise do Texto da Sistematização 

 Assim que o texto da sistematização ficar pronto, e depois de revisto gramaticalmente,
deve ser distribuído para todos os participantes a fim de que seja estudado, analisado, primeiro individualmente, depois em grupo, para qualificar e racionalizar a discussão posterior no Plenário.
Faz-se a análise do texto em cima de três aspectos básicos:

1o )Fidelidade: cada um se reconhece no texto? Há alguma ideia, que considera
significativa, que foi colocada na sua resposta individual e que não foi contemplada? Todos devem
reconhecer, de alguma forma (não necessariamente com as mesmas palavras), sua resposta na sistematização; isto é fundamental! Caso este reconhecimento não ocorra, com razão dirão os participantes: “Se já existia um texto pronto, para quê fazer todo este jogo de cena?”.

2o)Técnica: de acordo com o referencial teórico-metodológico do Planejamento Participativo, este é um texto coerente para tal parte do Projeto (Diagnóstico)? Tecnicamente, o texto está adequado? Trata-se da verificação daquela orientação dada antes de começar a responder: um texto de Diagnóstico não deve ter característica de Marco Referencial —ideal,sonho—, nem de Programação —proposta de ação.

3o)Conteúdo: é assim que vemos nossa escola? Estamos de acordo com as ideias expressas no texto? São estas as nossas necessidades? Não é porque foi um colega que colocou determinada ideia que não se pode discordar. Se alguém não concorda com algo e não se expõe (no grupo ou no plenário), está boicotando o trabalho, deixando de dar sua contribuição. 
Esta análise prévia é muito relevante para potencializar o momento da plenária. É importante que se chegue ao plenário com as questões definidas e, no caso, por exemplo, de proposta de mudança de redação, já se leve a sugestão de nova redação (seja da descrição da realidade, seja das necessidades).


5.Plenário 

O plenário é o momento de partilha e análise da sistematização, de debate, de decisões e de encaminhamentos de alteração da redação. Normalmente, todos com cópias em mãos, com as dúvidas ou discordâncias anotadas, explicitam-se as eventuais contradições encontradas, bem como os pontos tidos como tecnicamente fora de contexto.

Este é o momento de debate e busca de consenso.
O uso de computador e data show facilita muito o trabalho, pois possibilita a visualização de todos das modificações que estão sendo propostas.

O núcleo fundamental do plenário é o conteúdo das respostas. Aspectos como estilo de linguagem ou eventuais problemas gramaticais podem ser apontados para serem trabalhados posteriormente pela equipe de coordenação do PPP.
Devem-se evitar discussões muitas longas em plenário (geralmente, a participação fica restrita a uma pequena parcela - 10 a 20%); se necessário, aprofundar as discussões nos pequenos grupos.


Outra alternativa de encaminhamento do trabalho é, depois da simples leitura de um item
mais polêmico em plenário, ir para grupo a fim de refletir com mais cuidado. Feito isto, já com as

sugestões de alteração do texto, volta-se a plenário para o debate. Se ainda for necessário, pode se retomar o trabalho por grupo e um novo plenário.

A elaboração do Projeto é um momento de debate, de explicitação de posições, portanto, de conflitos e contradições. Através dos embates em torno das ideias e das propostas de alteração ou aperfeiçoamento do texto inicial, qualificamos a reflexão. Insistimos que é uma excelente oportunidade de formação para o grupo. Há um grave risco de, em nome do pouco tempo e da necessidade de se cumprir as etapas, apenas se referendar a redação. O critério básico aqui é a máxima participação de todos no plenário.

Para não se perder muito tempo em plenário discutindo minúcias (termos ou palavras), pode-se buscar a concordância da plenária com a ideia e confiar a elaboração da redação à equipe de sistematização.
Quem está coordenando o plenário deve ter todo o cuidado para se ater à coordenação e
não se envolver nas discussões; quando há envolvimento, complica-se por demais a dinâmica,
tendendo a rachar o grupo (“os da turma da coordenação” x “os do contra”), ou gerar uma
inconsciente disputa de poder; o trabalho passa a patinar, ficar improdutivo. Aquele que deveria



ajudar a reflexão fluir se torna um empecilho. Se desejar entrar na discussão, solicitar para ser
substituído na coordenação até que aquele ponto esteja resolvido.

A(s) equipe(s) de sistematização deve(m) ter humildade no sentido de entender que prestou um serviço ao grupo organizando as ideias dos colegas. Os participantes sabem que, de um modo geral, houve pouco tempo para a sistematização, além da dificuldade em si de sistematizar (interpretar os registros dos colegas, arriscar colocá-los numa certa sequência, ter de dar corpo ao texto). Não cabe, portanto, ficar presa à defesa ou justificação da redação inicial.

Este é outro fator complicador da dinâmica da plenária. Uma estratégia interessante na condução dos trabalhos, quando há um mínimo de clima de liberdade, é a busca do consenso ao invés da votação. Aparentemente, a votação é mais democrática, mas pode não ser bem assim. É certo que é uma forma mais rápida de se resolver impasses, porém há o risco de empobrecer o debate, além de criar divisões no grupo (os que venceram versus os que perderam). Se a decisão vai ser tomada por votação, quando o outro está falando, minha tendência é prestar atenção aos pontos falhos de seu discurso para explorá-los quando assumir a palavra. Se a decisão for por consenso, enquanto o outro fala, estou prestando atenção naquilo que pode ser aproveitado do discurso dele, naquilo que ele se aproxima de minhas convicções a fim de chegarmos a pontos comuns. Por isto, a votação é recomendada apenas em último caso.

Nas discussões, devemos estar atento ao essencial. Explorar o potencial das contradições.
Por outro lado, a partir de um certo momento, o debate pode ficar improdutivo por falta de novos elementos para a reflexão. Aqui, o grupo pode ter dois encaminhamentos: buscar de imediato alguns subsídios para enriquecer o trabalho, ou buscar um consenso mínimo, e já deixar apontado aquele ponto como uma necessidade, que demandará, depois na Programação, algumas ações a fim de supri-la. 

A redação final, a cargo da comissão geral, deve manter o compromisso de máxima fidelidade, tendo liberdade de alterar a forma em função da melhor clareza e coerência interna do texto. Temos consciência de que as elaborações que expressamos no Projeto nunca serão definitivas; são apostas que fazemos num determinado momento histórico, mas mantendo constantemente a abertura para a mudança quando um fato novo relevante surgir. Trata-se de ter a ousadia, a coragem de apostar, de, digamos assim, “colocar no papel”, e, ao mesmo tempo, a humildade de reconhecer o caráter provisório de tal iniciativa, de “mudar o papel” quando necessário.


Caderno de Orientação Metodológica-2    Elaboração do Diagnóstico 
                                                                    Celso dos S. Vasconcellos 


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